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Diretor Glorioso 1904
ÓDIO E AMOR
Podia ser o nome de uma nova série de uma qualquer plataforma de streaming, mas não é. Pelo contrário, é a realidade do nosso futebol.
23 Mai 2023, 09:17

Podia ser o nome de uma nova série de uma qualquer plataforma de streaming, mas não é. Pelo contrário, é a realidade do nosso futebol.

Pior que uma novela com incontáveis temporadas, o futebol português tem um argumento bafiento, escrito por pessoas que há muito não deviam andar nesta indústria e que envenenam tudo e todos à sua volta.

Como qualquer benfiquista não gosto do Sporting. Seria hipócrita da minha parte dizer que não prefiro que percam, a que ganhem. Na prática, quantas mais vezes perderem mais longe estarão de nós (se fizermos o nosso trabalho, como é nossa obrigação).

Dito isto, quando vou assistir a um jogo do Benfica, jamais me passa pela cabeça que um dos cânticos de apoio ao meu clube seja um de ódio a um rival. Não só não me passa pela cabeça como se o ouvisse insurgia-me contra esse comportamento. Na minha cabeça, só há uma forma de apoiar: sempre pelo Benfica e nunca contra ninguém!

É por isso com enorme tristeza, mas nenhuma surpresa, que assisto ao que assisti no Domingo em Alvalade. Não bastava o ambiente de intimidação (que outras tantas vezes senti dentro e fora desse estádio) como ainda sou presenteado com cânticos sucessivos, entoados alegremente pela maioria dos sportinguistas ali presentes, com expressões como Benfica é Merda e Filhos da Puta (este último como quem grita Sporting de uma bancada para a outra).

O que leva uma massa imensa de um dos maiores e melhores clubes nacionais entoar cânticos de ódio pelo seu rival? E não, não me venham com a história que é normal porque é num derby. Sabemos bem que esses cânticos são entoados jogo após jogo, em Portugal e no estrangeiro. Há alguma coisa no desporto e no futebol, em particular, que o justifique?

Este ano, mais do que qualquer outro, temos assistido a um recrudescer de episódios de sectarismo e ódio à volta do futebol. Um desporto que devia promover comportamentos virtuosos, bons exemplos, amizade e respeito, promove exatamente o seu contrário, sob o mais alto patrocínio de todos os seus dirigentes, no conforto dos seus luxuosos gabinetes ou faustuosos camarotes.

Enchem-nos os olhos com mensagens e hashtags de respeito, contra o racismo, a favor da diferença, etc. e em todas as oportunidades a realidade mostra-nos que tudo isso não passam de palavras ocas que se estilhaçam mal entram em contacto com os interesses do status quo vigente.

Se nem a educação e o respeito pelos colegas são capazes de assegurar, como é que podem fazer o mesmo com temas tão importantes como o racismo ou igualdade.

Em todas as oportunidades possíveis fecham os olhos e até validam comportamentos absolutamente deploráveis de treinadores e dirigentes transmitidos em direto e repetidos ad nauseam nas televisões deste país, “castigados” com multas e suspensões de valores e tempo ridículos, que só os caucionam, ao mesmo tempo que incentivam a sua repetição.

Dirigentes associativos e de clubes não têm uma palavra para os cânticos de ódio pelos rivais e, pelo contrário, utilizam-nos para justificar que um adepto não possa entrar no estádio, com um bilhete comprado muitas vezes a mais de 5% do salário mínimo nacional, porque leva consigo adereços do clube que apoia.

Se este é o futebol e o desporto que defendem, não é o meu. E tenho pena e vergonha (mas também aqui nenhuma surpresa) que o Benfica, também aqui, não tenha uma posição mais firme em defesa dos seus adeptos e, mais importante, do futebol e do desporto em geral.

Da minha parte espero continuar a ver adeptos do Sporting, Porto ou qualquer outro clube a partilhar a mesma bancada que eu, também no Estádio da Luz, e sim, que possam celebrar os golos do seu clube, com respeito por quem os recebe, mas sem que se sintam ameaçados ou insultados, como eu e muitos outros nos sentimos no domingo.

Enquanto Benfiquista, nunca vou compactuar com ódio por outros. O meu clube tem de saber ganhar, mas também perder, com respeito pelo trabalho e mérito dos outros, na certeza que no ano seguinte temos de fazer melhor para voltar a ganhar.

No meu Benfica, e espero que o de todos os que leem este texto, só há espaço para o Amor. É por isso que eu e milhões de pessoas por todo o mundo voltaremos a entoar no próximo sábado o cântico que tem de nos distinguir:

 

Lá, lálá, lá, lá, eu amo o Benfica, lá, lálá, lá, lá….!

No meu coração não há espaço para mais nada.

 

Rumo ao 38!

 

Viva ao Benfica!

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