É Bipolar dentro de campo. Tanto é capaz de se bater de igual para igual e até ganhar aos melhores da Europa, como três dias depois tremer para vencer

Este Benfica é Bipolar

É Bipolar dentro de campo. Tanto é capaz de se bater de igual para igual e até ganhar aos melhores da Europa, como três dias depois tremer para vencer um adversário do fundo da nossa Liga ou até mesmo perder, com clareza, com outro que tem menos adeptos do que os que cabem nas bancadas do Seixal.

É Bipolar na sala de imprensa, quando coloca um profissional de comunicação a dar indicações, que por vezes se confundem com ordens, a Lage, para tentar controlar a narrativa do que este passa aos jornalistas, enquanto o deixa desprotegido na garagem do Estádio da Luz, a falar com adeptos como se estivesse numa roda dos seus amigos mais íntimos.

É Bipolar no mercado quando passa de vender sem acautelar as saídas para comprar sem garantir as vendas, daí resultando um plantel sobredimensionado com um imenso potencial de promover bolsas de insatisfação tóxicas para o grupo como um todo. Ou ainda quando passa de comprar jovens promessas (oportunidades que só batem uma vez à nossa porta) para comprar jogadores veteranos que já passaram o seu prime há muito.

É Bipolar quando, mais uma vez, é incapaz de defender publicamente o clube de mais um roubo de igreja frente ao Barcelona, de declarações ofensivas do futuro presidente da FPF (com o nosso apoio), ou das inúmeras humilhações a que os benfiquistas são sujeitos nos estádios do nosso país, para depois emitir um comunicado, pleno de indignação, a defender um diretor do clube de uma notícia originada por uma denúncia anónima.

Esta bipolaridade, mais do que uma doença, é um sintoma daquilo que já há muito está à vista de todos: a falta de rumo e de um projeto que tranquilize e una os benfiquistas à volta do clube.

Pelo contrário, sente-se o desconforto e insegurança de quem sabe que o sucesso, a acontecer, é mais obra do acaso do que da competência.

Até podemos ganhar este ano (ainda que não pareça provável), mas estamos cada vez mais longe de garantir a superioridade que devíamos ter face aos nossos mais diretos rivais.

Estamos a perder, se é que não perdemos já, uma oportunidade histórica para descolarmos e garantirmos a famosa hegemonia desportiva que, com confessa imodéstia, nos julgamos merecedores. Um erro que vamos lamentar por muitos anos.