Tiago Godinho
Biografiado Autor

20 Jul 2023 | 17:19

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Tiago Godinho

Se o receiam, não servem para liderar os destinos da instituição mais amada em Portugal

No passado dia 14 de julho finalmente foi apresentada a proposta de revisão estatutária da direção. Um mês após as eleições de 2021 a direção do Sport Lisboa e Benfica decidiu criar uma comissão para a revisão do documento que regula o funcionamento interno da instituição. Nessa comissão foi reunido um leque de associados que representam diferentes sensibilidades relativos aos destinos do clube, nessa altura saudei a abertura demonstrada pela direção recém-eleita.


Em cinco meses de afincado trabalho, pro bono para o clube, a comissão entregou a sua proposta em março de 2022. Sendo natural que a mesma não vinculasse a direção do clube, por diversas vezes diversos Benfiquistas solicitaram a sua divulgação. Infelizmente a direção fez ouvidos moucos a esses pedidos.

Um ano e quase quatro meses depois da entrega do documento por parte da comissão, a Direção apresenta a sua proposta - não a que foi entregue pela comissão, que a teima a não publicar - tendo alguns pontos positivos, mas no computo geral ficando muito aquém daquilo que o Sport Lisboa e Benfica merece.


A última revisão aos estatutos ocorreu em 2010, pouco divulgada pelo clube, foi aprovada por pouco mais de uma centena de associados e rapidamente foi percetível que tinha demasiadas falhas para ser o documento fundamental de um clube que têm orgulho numa história marcada indelevelmente pela militância democrática.

Apresentar uma proposta de revisão de estatutos em 2023 que:


- Não garanta a independência dos três órgãos sociais;

- Permite que a direção venda património do clube sem consultar a Assembleia Geral;

- Mantenha as restrições aos direitos dos associados com a categoria de correspondentes;

- Mantenha uma desproporcionalidade no peso eleitoral dos associados, por exemplo hoje quem tenha mais de 25 anos de filiação vale tanto eleitoralmente que 50 novos sócios;

- Mantenha a direção como o órgão com a responsabilidade disciplinar no clube, isto quando um ex-Presidente em plena AG agrediu um associado;

- Que permite que seja a direção a criar qualquer regulamento interno, como por exemplo o eleitoral onde será certamente parte interessa ou a da nova possibilidade de remuneração dos órgãos sociais;

- Que aumente em 10 mil votos os requerimentos para convocação de Assembleia Geral Extraordinária por iniciativa dos associados do Sport Lisboa e Benfica, para 20 mil o dobro dos atuais estatutos;

Este último ponto, talvez até seja o menos relevante dos sete que anunciei acima, mas é revelador e incompreensível tendo em análise a história recente do Sport Lisboa e Benfica. Nas mais de duas décadas deste século só por uma vez os associados do Sport Lisboa e Benfica decidiram que existiam motivos para convocar uma Assembleia Geral Extraordinária, para quê?

Para discutir o porquê de em 2017 o clube ter decidido desbaratar uma equipa campeã e desinvestido no seu plantel principal quando podia alcançar um inédito pentacampeonato e dessa forma cavar um fosso maior para os seus principais adversários? Não.

Para discutir as paupérrimas participações na Liga dos Campeões? Não.

Para discutir o desinvestimento nas modalidades de pavilhão quando os seus adversários faziam o inverso? Não.

Para discutir o motivo para não existir qualquer procedimento disciplinar ao Presidente da Direção por ter agredido um associado em plena AG? Não.

Sendo que qualquer um dos temas acima seria mais que justificado a Assembleia ser convocada, mas a perda notória de militância na vida associativa do Sport Lisboa e Benfica até fez que matérias importantes para debate como qualquer uma das escritas acima fossem passando ao lado dos sócios do clube.

Em 2020 um conjunto de associados decidiu iniciar um processo de recolha de assinaturas para convocar uma AGE após o processo eleitoral de 2020. Um processo eleitoral que envergonha a história do Sport Lisboa e Benfica, um processo eleitoral digno daqueles que eram organizados pelo Estado Novo e onde nessa altura orgulhosamente o Sport Lisboa e Benfica era um exemplo imaculado de uma instituição com um funcionamento democrático.

Um processo eleitoral em que as urnas foram recolhidas por ainda hoje pessoas que ninguém sabe quem eram.

Um processo eleitoral onde os votos físicos não foram contados prevalecendo a votação eletrónica contestada por TODAS as listas com exceção da liderada por Luís Filipe Vieira.

Um processo eleitoral onde os órgãos de comunicação social não acompanharam o processo eleitoral.

Um processo eleitoral sem debates entre os candidatos.

Um processo eleitoral antecipado à última hora com a justificação da pandemia.

Depois deste processo que envergonha qualquer Benfiquista que conheça a história do clube, três associados do clube solicitaram ao Presidente da Mesa recém-eleito, acesso a todo o processo o eleitoral. Por duas vezes o Presidente da Mesa, Rui Pereira, negou esse acesso solicitando na 2 ª mensagem de resposta que os associados reunissem os votos necessários para convocar uma Assembleia Geral Extraordinária.

Pois bem, foi isso que o movimento “Servir o Benfica” fez a partir dessa resposta, em dezembro de 2020, tendo reunido e entregue mais de 10 mil votos correspondentes à assinatura de mais de três centenas em abril de 2021. Em plena pandemia, mais de três centenas de associados não viraram a cara nem desistiram de lutar pelo Sport Lisboa e Benfica. Do requerimento entregue 4 pontos para discussão:

1 – Discussão e deliberação do modo de votação, eletrónico ou físico, das deliberações dos pontos seguintes;

2 – Discussão e deliberação sobre a constituição de uma comissão independente de sócios e poderes conferidos para:

- Organizar a realização de uma auditoria ao sistema de votação eletrónica utilizado nas eleições de 28 de outubro de 2020;

- Iniciar um processo de esclarecimento do modo como se processou a recolha das urnas que continham os talões de voto emitidos, nomeadamente relações com empresas envolvidas no processo, termos da sua contratação, local de destino e/ou depósito das urnas, integridade das mesmas e intangibilidade dos talões;

3 – Discussão e deliberação sobre o processo de contagem dos votos depositados nas urnas durante a Assembleia Geral Eleitoral do dia 28 de outubro de

2020 e modo da sua divulgação aos sócios do Sport Lisboa e Benfica;

4 – Discussão e aprovação de proposta de Regulamento Eleitoral para as eleições do Sport Lisboa e Benfica.

O Presidente da Mesa da AG, conforme compromisso assumido, aceitou o pedido dos associados e de forma inacreditável foi sendo sistematicamente boicotado pela direção em exercício em funções. Esta situação levou o Dr. Rui Pereira a demitir do cargo de Presidente da Mesa da Assembleia Geral.

Entretanto, Luís Filipe Vieira, foi detido no âmbito do processo 'cartão vermelho' recaindo sobre si entre as diversas acusações, a de ter prejudicado o Sport Lisboa e Benfica.

No início de setembro de 2021, o então Presidente em substituição da Mesa da Assembleia Geral, Dr. Pires de Andrade, finalmente convocou a AGE para dia 17 sem antes ter de forma prepotente alterado a ordem de trabalhos solicitada pelos associados subscritores da reunião, passando o ponto 4 º a ter a seguinte redação:

  1. Discussão e apreciação de proposta de Regulamento Eleitoral para as eleições do Sport Lisboa e Benfica.
No dia 17 de setembro, numa das Assembleias Gerais mais participadas no presente século do Sport Lisboa e Benfica, a resposta dos sócios presentes foi cabal, com uma votação massiva no ponto 1 ao recusar a votação eletrónica. No ponto 2 ao eleger uma comissão de associados para auditar o processo eleitoral de 2020 e só não foi no ponto 4 º porque o Dr. Pires de Andrade recusou-se liminarmente a fazer essa votação, mesmo contrariando aquele que tinha sido a vontade expressa na sua última intervenção de Rui Costa.

Na madrugada de dia 18 de setembro às 02:11 o Sport Lisboa e Benfica emitiu comunicado:

«Na sequência da Assembleia Geral Extraordinária realizada no dia 17 de setembro, a Mesa da Assembleia Geral aditará nos termos estatutários a convocatória divulgada hoje nos meios de Comunicação Social, designadamente, para promover o ato eleitoral através de voto físico em urna em Portugal continental.»

https://www.slbenfica.pt/pt-pt/agora/noticias/2021/09/18/clube-benfica-assembleia-geral-extraordinaria-comunicado-presidente-mag

No dia 19 de setembro, Domingo, novo comunicado do Sport Lisboa e Benfica:

"O Sport Lisboa e Benfica informa os seus associados que, na defesa do espírito democrático que marca a sua história e no enaltecer dos valores da salutar discussão e do debate de ideias que engrandecem o seu glorioso percurso, as eleições do dia 9 de outubro merecerão a seguinte cobertura mediática nas plataformas de comunicação do Clube"

https://media.slbenfica.pt/pt-pt/agora/noticias/2021/09/19/clube-benfica-comunicado-da-direcao-cobertura-mediatica-eleicoes-9-outubro

No dia 24 de setembro, foi possível um acordo entre o Movimento Servir o Benfica e os membros da direção, Dr. Jaime Antunes e Dr. Fernando Tavares, para a aprovação de um regulamento eleitoral para a eleição de 2020.

«O presente Regulamento Eleitoral resultou de um processo de diálogo que decorreu entre a Direção do Sport Lisboa e Benfica, a Mesa da Assembleia Geral do Clube e o Movimento Servir o Benfica, e visa regular as eleições de 9 de outubro de 2021»

https://www.slbenfica.pt/pt-pt/agora/noticias/2021/09/24/clube-benfica-comunicado-processo-eleitoral-9-outubro-regulamento-eleitoral

Tudo o que não tinha sido possível no ano anterior, finalmente foi uma realidade, graças à força incomparável dos sócios do Sport Lisboa e Benfica. Tendo sido a eleição de 2021 um exemplo de como devem funcionar os processos eleitorais do Sport Lisboa e Benfica. Na eleição mais participada de toda a história do clube, o vencedor de forma clara, Rui Costa, a assistir à sua tomada de posse estiveram os dignos vencidos que fizeram questão de o felicitar e desejar-lhe os maiores sucessos, pois uma direção bem-sucedida é sinónimo da felicidade de todo o universo Benfiquista.

Portanto, agora a Direção do clube, eleita nesse processo imaculado pretende dificultar a realização de AGE? Receiam o que? A democracia? A força dos associados do clube?

Então se o receiam, não servem para liderar os destinos da instituição mais amada em Portugal. Podem estar certos, a luta irá continuar por um clube mais participado pelos seus legítimos donos, os sócios do Sport Lisboa e Benfica, mais transparente, democrático e ambicioso.

"O Benfica é nosso e há de ser!"

Viva o Sport Lisboa e Benfica!

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Tiago Godinho
Tiago Godinho

20 Set 2024 | 15:24

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Os Estatutos

No dia de amanhã vamos ter a 2 ª AGE da revisão estatutária do Sport Lisboa e Benfica.

Tiago Godinho
Nuno Campilho

18 Set 2024 | 06:00

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Lost in Translation

Mantém-te acordado, Benfica, não voltes a fechar os olhos e a marcar passo, pois não haverá uma segunda oportunidade o tempo, que não há, espere por ti

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Tiago Godinho
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Tozé Santos e Sá
Tozé Santos e Sá

APONTAMENTO – Vermelho e Branco: Foco no futuro

O mano Luís Filipe Vieira é passado que não volta. O mano Rui Costa é presente que não se renova. Segue a palavra aos sócios para as alternativas de futuro.

20 Set 2024 | 06:00

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Nuno Campilho
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18 Set 2024 | 06:00

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