Nuno Campilho
Biografiado Autor

03 Jul 2024 | 06:00

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Nuno Campilho

É tão certo quanto não haver ninguém que se “atire” ao Pepe, como se “atiraram” ao António Silva

Série norte-americana (as célebres sitcoms, ‘situation comedies’) estreada há quase 40 anos (1985), traz-nos Tony Danza (hoje com 73 anos) a um papel que o celebrizou (e o há-de imortalizar), no qual era suposto mandar, mas não mandava nada.

Vá-se lá saber porquê, lembrei-me de Roberto Martínez...

Sim, aquele senhor que está selecionador nacional, também era suposto mandar, mas não manda nada, pois a seleção continua a ser dominada pelos mesmos do costume, os quais, sendo suposto acrescentarem qualidade, infelizmente, não acrescentam nada. Aliás, o que, vergonhosamente, lhes sobra em estatuto, falta-lhes em mentalidade competitiva (não que disso padeça o chefe-mor, pois, ainda assim a tem, mas pouco mais lhe resta).

Se a ideia foi manter Cristiano Ronaldo, Bruno Fernandes e Bernardo Silva em campo, para bater os penaltis do desempate no jogo com a Eslovénia, então, no jogo com a França, que entrem só no caso de tal igualmente se verificar. Estarão mais frescos e, se, como ontem, forem competentes, serão glorificados como tanto gostam.

Permitam-me, no entanto, fazer um disclaimer (bem sei que se costuma fazer no início, mas penso que agora também serve). Eu adoro o Bernardo, pela sua qualidade futebolística, pelo seu benfiquismo, pelo seu virtuosismo, pela sua inteligência e, até, pela sua humildade. Mas não está a dar. E, como é óbvio, não creio que seja o próprio, ainda por cima numa competição como o Campeonato da Europa, a dizer ao treinador que não quer, ou que não o ponha a jogar. Para isso, seria preciso um chefe, que se assumisse e impusesse, mas, como é bom de ver, chefe, mas pouco.

Quanto ao Bruno, é por demais reconhecida a sua influência no futebol da seleção, quiçá o jogador mais importante da era Martínez. No entanto, das três uma, ou está de rastos (como aparenta), ou não se consegue coordenar com o Vitinha (que enorme surpresa, ou certeza, depois das fantásticas performances ao serviço do PSG), ou amua porque queria ser o Ronaldo 2.0 e não o deixam. Precisava de um chefe que o orientasse e o fizesse coabitar com os restantes colegas em campo, até porque qualidade e influência (até, por vezes, decisiva) não lhe faltam. A vagarosidade com que executa todos os movimentos, o desplante com que disputa a bola e a inconsequência das suas ações irritam o mais sereno... menos o chefe, mas esse é pouco.

Por falar em Ronaldo e porque só falta esse (ao Pepe vou mais à frente), a sua estratosférica carreira, inolvidável e quase inigualável, já terminou, mas ele, ou não sabe, ou não quer saber, pelo que teria de ter um chefe que lho dissesse, mas, pronto, já sabem, está lá um chefe, mas pouco.

Para que as coisas possam ser minimamente equilibradas frente à França (eu disse, minimamente, pois vamos levar “banho”), a equipa tem de contribuir para esse equilíbrio e, já agora, ser mais acutilante ofensivamente. Não vai ser nada disto, mas eu punha o Inácio ao lado Ruben Dias, o João Neves no lugar do Bruno, a fechar sobre a direita para ajudar a estancar as arrancadas do Mbappé e a canalizar jogo ofensivo interior, permitindo  dar mais largura ao Cancelo (ou seja, o João jogaria no lugar do Bruno – que, em bom rigor, não tem ocupado nenhum lugar – mas faria as funções do Bernardo), o Félix no lugar do Bernardo, mas a jogar entrelinhas (espaço que ainda não conseguimos ocupar, nem utilizar em nenhum dos quatro jogos já realizados), atrás do ponta-de-lança, e jogava com o Ramos no lugar do Ronaldo.

Mas como eu não sou o chefe, nem um pouco, nada disto vai acontecer. E isso é tão certo quanto não haver ninguém que se “atire” ao Pepe, como se “atiraram” ao António Silva. Basta ter dado uma vista de olhos pelos jornais que saíram no dia seguinte, ou ter acompanhado os comentários pós-jogo, com a particularidade de ter havido quem dissesse que o Pepe não merecia que aquele seu erro resultasse em golo da Eslovénia. Coitadinho... o António fez like! Há quem não seja chefe, nem um pouco, mas, condescendência é algo que lhes sobra para troca (isto já para não falar em visível desonestidade intelectual...).

Voltando ao chefe, mas pouco, lá terei de assumir algo que não me traz qualquer prazer numa altura como estas, que é a de ter razão antes do tempo (e não me importo nada de a perder, caso sejamos, como muito gostaria, campeões da Europa). Treinador banal, sem modelo de jogo, utilizando várias táticas à vez e, também, ao mesmo tempo e com uma falta de noção gritante sobre aquilo que as características dos magníficos jogadores que tem à sua disposição podem dar à equipa. Pior, consegue baralhar tudo de tal forma, que coloca o Cancelo a jogar por dentro e o Bernardo por fora, quando devia ser ao contrário; mete o Conceição a jogar onde nunca joga, para depois corrigir, perdendo largos minutos agarrado a uma decisão que ninguém percebeu; e retira do campo os únicos jogadores que estavam a fazer alguma coisa para tornear o jogo chato dos eslovenos, o Vitinha que controlava e circulava a bola por onde dava (e, por vezes, não dava) e podia, e o Leão, aquele que conseguia dar velocidade ao jogo pastoso da seleção e o único que, com as suas acelerações, proporcionou as jogadas de maior perigo protagonizadas pela equipa e que os colegas não aproveitaram.

Posto isto e ainda que o jogo com a França seja no dia 5, o dia D, para mim e para os milhões de benfiquistas que o anseiam, é o regresso ao trabalho do Glorioso, já no dia 3, porque já chega de pasmaceira.

Que a próxima época nos traga mandões, e que o nosso chefe também o possa ser muito e, preferencialmente, bem melhor.



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