É quase como se estivéssemos a assistir a um truque de Houdini, onde a responsabilidade desaparece magicamente sempre que os resultados são desfavoráveis
Na última Assembleia Geral do Benfica, ficámos a saber que o andebol masculino custou €3,4 milhões na época passada. Sim, mais de três milhões investidos numa modalidade que nos deu zero títulos nacionais e na qual já não somos campeões desde 2008. Desde então, o clube já gastou mais de 30 milhões de euros, com o único destaque a ser um título da EHF conquistado recentemente, um feito que parece ter sido mais exceção do que regra.
Perante estes números astronómicos, Rui Costa proferiu uma declaração difícil de compreender: Fernando Tavares, o vice-presidente responsável pelas modalidades, não é responsável por estas contas. É difícil não questionar — como pode o responsável máximo pelas modalidades não ter qualquer responsabilidade? É quase como se estivéssemos a assistir a um truque de Houdini, onde a responsabilidade desaparece magicamente sempre que os resultados são desfavoráveis. Quando será que a magia irá acabar e começaremos a ouvir respostas concretas em vez de ilusões?
A entrevista de Luís Mendes ao Record intensificou ainda mais a controvérsia. Não bastava Tavares ser um vice-presidente que, aparentemente, age sem prestar contas, agora, fica evidente que, sob a sua supervisão, as modalidades operam numa lógica de “deixa andar”. Durante a Assembleia Geral de 15 de junho, questionei Fernando Tavares sobre a falta de transparência na gestão, especificamente em relação ao caso “Saco Azul” no andebol. Ele respondeu que só tratou do assunto assim que tomou conhecimento dele. No entanto, Luís Mendes diz o contrário, afirmando que a situação continua a carecer de rigor. Aparentemente, o orçamento das modalidades é uma mera sugestão que Tavares ignora à vontade. Rigor e transparência? Esses conceitos parecem ter lugar apenas nos livros de economia. Na prática, a abordagem é bem diferente: gastar sem critérios, ignorar os orçamentos e permitir que os agentes se movam livremente, como se não houvesse consequências.
E depois temos o caso do andebol. Quando uma modalidade consegue gastar mais de 3 milhões de euros e não conquista qualquer título, fica claro que o projeto desportivo é tão sólido quanto uma casa de palha. E quem é que Fernando Tavares escolhe para liderar a secção que, apesar do investimento avultado, menos resultados apresenta? Pedro Jerónimo, cuja chegada a meio da época passada já levantou rumores dos seus comportamentos fora de campo. Surgiram relatos algo incomuns sobre o que terá ocorrido na véspera de um jogo importante, com comportamentos que pouco refletiam o profissionalismo esperado de alguém nas suas funções. No dia seguinte, apareceu como se nada tivesse acontecido. Esta época, quase fomos penalizados por uma falha administrativa, devido à não inscrição atempada de jogadores. E se isso já é preocupante, não é menos inquietante a sua ausência constante nas reuniões semanais de planeamento dos treinos, como se fossem meros pormenores.
Mas o "toque de mestre" aconteceu antes do dérbi com o Sporting, quando ficámos sem um pavilhão para treinar na véspera do jogo porque Jerónimo não compareceu à reunião semanal onde se discutem as disponibilidades dos treinos. O resultado foi uma humilhação em campo, onde saímos derrotados no João Rocha.
A nomeação de Élio Azevedo como Team Manager do futebol feminino de formação levanta, no mínimo, algumas questões inquietantes. Vindo do LX50, um clube de andebol que fechou portas devido a alegações de falta de transparência por parte do próprio Azevedo, a escolha parece um exercício de irresponsabilidade. Curiosamente, este é também o ano em que começamos a ver transferências recorde nesta secção. Parece que a receita de “vender a torto e a direito” do futebol masculino já se infiltrou nas equipas femininas.
Aqui fica a pergunta essencial: por que razão Fernando Tavares opta por pessoas com este historial para as nossas equipas? Terá o clube uma política de recursos humanos que privilegia aqueles que já têm experiência em causar prejuízos? O Benfica, um clube que deveria primar pela transparência e pelo sucesso desportivo, está agora refém de gestores que transformam cada projeto num poço sem fundo de despesismo e incompetência.
Se Fernando Tavares não é responsável por nada, que alguém nos explique quem é. Os milhões continuam a ser gastos, os sócios continuam a ser ignorados e o clube parece agora um reflexo do Império Romano nos seus últimos dias, governado por segundas linhas e corroído por uma podridão difícil de esconder. Fernando Gastares... mas quem paga a conta, como sempre, é o Benfica.