O Benfica nasceu como o clube do povo, fundado por jovens com poucas posses e muitos sonhos
O Benfica nasceu como o clube do povo, fundado por jovens com poucas posses e muitos sonhos. Foi essa ambição inclusivamente que deu origem ao nosso ecletismo: um clube que vai além do futebol. Onde qualquer um pode praticar desporto e, acima de tudo, onde qualquer jovem pode crescer, competir e desenvolver-se com a camisola do Benfica. Desde cedo, este espírito democrático marcou a identidade do clube. Como disse Maurício Vieira de Brito, um dos maiores presidentes do Benfica «o Desporto é a escola de virtudes, de civismo, de lealdade», unindo adeptos e sócios – sem distinção de classes ou categorias sociais – numa missão comum de formar não só atletas, mas também Homens e Mulheres.
Este vínculo popular é a nossa essência e define-nos como uma potência multidesportiva. Mas a hegemonia custa. Manter uma estrutura eclética sustentável, sem renunciar à ambição de vencer em todas as frentes, é um desafio constante. O Benfica não se contenta em participar, é um clube que tem de jogar para ganhar. Para nós, a hegemonia é um princípio, não uma opção.
Para garantir um futuro sólido e competitivo para as suas modalidades, o Benfica precisa de adotar medidas estratégicas que alinhem a sua gestão, a formação de atletas, a atração de patrocinadores e a exploração do seu património. Um modelo de gestão renovado, uma aposta contínua na formação, a criação de um main sponsor unificado e o reforço da sustentabilidade através do naming dos pavilhões são passos fundamentais para assegurar a hegemonia e a sustentabilidade a longo prazo do clube, mantendo intactos os seus valores e a sua ambição de vencer em todas as frentes.
1. Um Modelo de Gestão Renovado para as Modalidades do Benfica
A gestão das modalidades do Benfica deve ser baseada numa matriz organizacional comum a todas, mas respeitando as especificidades de cada uma. O ponto de partida passa por um diagnóstico profundo da realidade de cada modalidade, de forma a identificar os seus pontos fortes e fracos, bem como as oportunidades de melhoria. Este conhecimento permitirá definir estratégias claras e ajustadas às necessidades individuais de cada uma.
O modelo deve assentar em duas grandes vertentes: a estrutura diretiva e a estrutura técnico-desportiva, ambas com objetivos bem definidos e responsabilidades claramente delimitadas. A estrutura diretiva deve ser liderada por três figuras de igual importância hierárquica: o Diretor Técnico, o Diretor Administrativo e o Diretor de Formação. No entanto, acima desses diretores estará o Diretor Responsável por cada Modalidade, uma figura de liderança que supervisiona a gestão de uma modalidade específica e reporta diretamente ao vice-presidente do clube. Esse diretor será o ponto de referência para a gestão global da modalidade, garantindo que as decisões estratégicas, operativas e desportivas estejam alinhadas com os objetivos globais do clube, mas também adaptadas às especificidades de cada modalidade.
A direção técnica ficaria responsável pelo planeamento estratégico e pela gestão desportiva das equipas principais, estabelecendo metas competitivas claras para cada modalidade. Por sua vez, a direção de formação seria inteiramente dedicada ao desenvolvimento de atletas, trabalhando em articulação com os polos de captação e a estrutura técnica. O objetivo seria assegurar uma transição fluida e exigente entre a formação e as equipas seniores, promovendo apenas jogadores que realmente tivessem qualidade para reforçar as equipas principais, e não apenas para cumprir quotas ou figurar como “medalhas” de uma formação sem impacto.
Por outro lado, a estrutura técnico-desportiva teria como foco central a garantia da qualidade competitiva das modalidades. A intervenção dos diferentes agentes desportivos, deve ser enquadrada por um documento estratégico que deve definir a política desportiva de cada modalidade e respetivas equipas, garantindo ainda um alinhamento entre as características pedagógicas da formação e as especiais exigências do alto rendimento. Este alinhamento deve garantir um pipeline de talentos internos que responda tanto às necessidades desportivas imediatas como à visão de longo prazo do clube.
Além disso, acredito que é essencial apoiar este modelo com uma estrutura robusta de marketing e publicidade, capaz de atrair novas fontes de financiamento e potenciar a visibilidade do clube. Outro elemento crucial seria a implementação de um processo de gestão de qualidade, que, para além de assegurar a eficiência na coordenação dos processos internos, também garanta transparência em todas as decisões e operações. A transparência é um pilar fundamental para gerar confiança entre os adeptos e todos os que se associam ao clube, reforçando a integridade e a credibilidade da gestão.
2. O Futuro Passa Pela Formação
Uma formação sólida é o alicerce do sucesso desportivo e a garantia de sustentabilidade a longo prazo. No Benfica, a formação deve ser mais do que um ponto de partida: tem de ser uma estratégia bem definida, onde a base e o topo se conectem, assegurando que o talento interno alimente a alta competição de forma contínua e consistente.
No entanto, formar atletas não é apenas uma questão de treino. É necessário estruturar um modelo que:
• Amplie a base de recrutamento, criando condições atrativas para captar e reter jovens promessas, mas mantendo a exigência necessária para assegurar qualidade na alta competição.
• Desenvolva parcerias estratégicas, tanto nacionais como internacionais, com escolas, clubes e academias, ampliando a rede de captação de talento e o alcance da marca Benfica.
• Garanta uma transição fluida, mas exigente, entre a formação e os plantéis principais. O objetivo não é simplesmente “promover” jogadores para criar uma imagem de sucesso formativo, mas sim integrar atletas com qualidade e maturidade comprovadas, que possam de facto fazer a diferença.
3. Main Sponsor e Branding Unificado
Andebol, Voleibol e Basquetebol, enquanto modalidades olímpicas, posicionam o Benfica nos maiores palcos europeus, proporcionando uma visibilidade única e estratégica para o clube. No masculino, o Andebol destacou-se com a conquista da EHF European League em 2021/2022, enquanto o Voleibol e o Basquetebol continuam a competir ao mais alto nível na Champions League. No feminino, o basquetebol e o andebol têm vindo a crescer, mostrando o potencial destas modalidades para atrair novos públicos e investidores.
Além disso, é essencial reconhecer a relevância do Hóquei em Patins e do Futsal, duas modalidades que, apesar de suas diferenças, têm tido um impacto significativo para o Benfica. O Hóquei em Patins, sendo uma das modalidades mais icónicas do clube, carrega consigo uma longa tradição e um prestígio histórico inegável. No entanto, a sua visibilidade a nível internacional é mais restrita quando comparada a outras modalidades do clube. Em contrapartida, o Futsal é uma modalidade emergente, que, embora não tenha a mesma trajetória histórica, tem demonstrado um crescimento impressionante, tanto em popularidade quanto em reconhecimento global. O futsal masculino alcançou o 3.º lugar europeu em duas épocas consecutivas, enquanto a equipa feminina se sagrou campeã europeia na temporada passada, ainda que seja uma competição oficiosa. Estes resultados não só mostram que o Benfica compete ao mais alto nível, como também lidera em diversas frentes.
Apesar desta projeção internacional, o total de receitas em patrocínios e publicidade para as cinco modalidades de pavilhão – masculinas e femininas – é de apenas 1,7 milhões de euros por ano. Este valor está muito aquém da grandeza do clube e das oportunidades que a sua marca oferece.
O mercado português tem as suas limitações e não é capaz de acompanhar a dimensão das nossas ambições. É preciso olhar para fora, atrair patrocinadores internacionais e empresas institucionais que reconheçam o potencial de um Benfica presente e competitivo nos maiores palcos europeus. Um main sponsor unificado, que capitalize a visibilidade das modalidades olímpicas e o crescente potencial do futsal, bem como a força histórica do hóquei, seria mais do que um passo estratégico: seria a chave para transformar a visibilidade em hegemonia desportiva e sustentabilidade financeira.
4. Reforçar a Sustentabilidade com o Naming dos Pavilhões
A exploração comercial dos pavilhões do Benfica representa uma oportunidade evidente para aumentar as receitas e reforçar a sustentabilidade das modalidades.
O Pavilhão 1, símbolo do ecletismo e da história do Benfica, é um ativo de enorme valor que pode atrair um patrocinador de renome internacional. Associar uma marca de prestígio a um espaço emblemático onde se disputam jogos de andebol, voleibol, basquetebol, futsal e hóquei seria uma parceria mutuamente benéfica, amplificando a visibilidade do patrocinador e gerando receitas substanciais para o clube.
Por outro lado, o Pavilhão 2, apesar de menos mediático, também tem o potencial de se tornar uma importante fonte de receita. Oferecer o naming deste espaço a uma empresa de médio ou grande porte, especialmente numa lógica de associação ao desporto de formação ou de eventos complementares, pode criar um impacto financeiro significativo.
Reavaliar o naming do Pavilhão 1, adaptando o contrato atual ou abrindo novas negociações, e avançar com a exploração comercial do Pavilhão 2 seriam passos estratégicos. Esta visão não só ajudaria a reduzir a dependência de fontes tradicionais de receita, como também consolidaria a imagem do Benfica como um clube moderno e bem gerido, capaz de transformar património físico em valor económico.
O Benfica não pode contentar-se com o suficiente. O Benfica tem de aspirar ao máximo. Este é o nosso legado e a nossa responsabilidade, tanto em campo como fora dele. A sustentabilidade das modalidades é mais do que uma necessidade financeira; é um compromisso com a identidade do clube, que se pauta pela ambição, pela formação de excelência e pela capacidade de unir gerações em torno de um ideal comum.
Se queremos continuar a ser uma referência desportiva em Portugal e na Europa, é essencial implementar modelos de gestão inovadores, apostar na formação como eixo central do projeto, explorar novas oportunidades comerciais e abraçar a modernidade sem perder de vista os nossos valores. Só assim poderemos transformar a nossa história de sucesso numa garantia de futuro, mantendo o Benfica no lugar que lhe pertence: no topo.
Viva o Sport Lisboa e Benfica!