Mentalizem-se os sócios e adeptos que está implementado, desde alguns anos a esta parte, um necessário procedimento de vendas regulares anuais

Já é oficial: 59.921.587 EUR (cinquenta e nove milhões, novecentos e vinte um mil e quinhentos e oitenta e sete euros) pelo jogador que o atual Presidente da Benfica SAD apelidou de “líder nato”. A verba poderá chegar aos 69.908.518 EUR dependendo dos objetivos alcançados pelo vencedor de 10 das últimas 12 ligas francesas. A Benfica SAD assume a habitual despesa com serviços de intermediação ao nível de 10% em relação ao valor da venda e o PSG não reterá o mecanismo de solidariedade.

Deve haver muitas cabeças confusas com o valor estranho que foi comunicado mas creio que tal se deve ao facto da SAD ter apresentado o valor já líquido do mecanismo de solidariedade a pagar à Casa do Benfica de Albufeira que, por sua vez, contribuiu para a formação inicial de Neves. Se este pensamento estiver correto, numa lógica de transparência, a Benfica SAD também devia ter descrito no comunicado a redução da comissão de 10% (mais IVA) do agente que intermediou o negócio. Assim, irá receber (sem contar com os futuros objetivos) qualquer coisa aproximada dos 54 milhões.

Numa entrevista sua, Rui Costa caracterizou Neves como “dos maiores talentos que Portugal tem visto nos últimos anos” e com um perfil no balneário “bem marcante”. Eu acrescentaria que, pela forma de ser do atleta em causa, pela posição que ocupa em campo (praticamente todo o lado) e sempre com a sua camisola para dentro dos calções (até nisto se identificava com a imagem de um passado de sucesso cada vez mais distante), o “Joãozinho” reunia todas as condições para ser eleito capitão. Algo que teria que ser aceite pelos seus pares (colegas) devido ao reconhecimento público pelos Associados do Clube. A idade releva para o cargo? Prefiro um jovem que se entrega de corpo e alma à causa benfiquista do que um estrangeiro que só cá veio “trocar de roupa” ou do que um capitão que considera que “vencer não era o mais importante” no último jogo de pré-época frente ao Fulham.

Quando foi confrontado com as potenciais saídas de Neves e de António Silva em Maio passado, Rui Costa considerou que jogar com a camisola do SLB “oferece mercado” e que “temos muitos jogadores de eleição que naturalmente irão ter mercado” para depois concluir que “resta saber se é um mercado que nos interessa a nós ou não ...”. Qual é o mercado que interessa ao SLB senão o das vitórias?

Relembro que, numa análise feita a 100 clubes, o SLB foi quem mais obteve dividendos da formação nos últimos 10 anos segundo o Observatório de Futebol (CIES). Isto porque, neste hiato, 30 jogadores oriundos do Benfica Campus no Seixal renderam um total de 516 milhões de euros em receitas e dois terços deste proveito resultaram dos últimos 5 anos! Trata-se de uma mais valia superior quando o jogador é formado localmente e quanto mais anos estiver a representar o Clube/SAD, mais aumentará o resultado líquido desta.

Perante a receita factual brutal, devem decorrer as seguintes reflexões lógicas: (i) quase nenhuma parte dela deve ter sido aplicada na necessária sustentabilidade económico-financeira da SAD pois o passivo, ainda hoje, se mantém em zona perigosa por mais que ajustem a aplicação dos “valores dos ativos” para efeito do aumento dos capitais próprios) e (ii) não houve suficiente retorno desportivo com base no referido proveito fantástico, ou seja, se o SLB é amplamente dominador na receita nos últimos 10 anos para cá, significa que à medida que os anos vão passando, o SLB tinha que ganhar mais na modalidade futebol e tal não tem sucedido (aliás, ao contrário, pois ganhámos mais no início da contagem destes últimos 10 anos do que para o seu final); (iii) onde foi aplicado, então, o dinheiro?

Nota final para a necessidade de realização da 2.ª assembleia geral destinada à revisão estatutária. Pela altura que vos escrevo, não tenho conhecimento da convocatória para este efeito. Continuemos a lutar e a pugnar pela transparência té ao fim!