Pedro Brinca
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09 Dez 2022 | 16:07

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Pedro Brinca

A sua saída é pouco menos do que uma certeza. É um jogador que nunca foi 100% consensual no universo Benfiquista. Parece-me que a estrutura crê, erradamente, que é de fácil substituição.

Num artigo de Março de 2022, Jamie Spencer compila um ranking de clubes de futebol de acordo com o total de receitas geradas através da venda de jogadores da formação do próprio clube, desde a época de 2015. O critério para que as receitas da venda de um jogador entrem para este ranking é que tenha passado pelo menos três anos no clube entre os 15 e os 21 anos.


Nos primeiros 25 clubes, aparecem os três grandes de Portugal. Em vigésimo primeiro lugar, o Futebol Clube do Porto, com um total de 136 milhões, sendo que a sua maior venda foi a de Fábio Silva para o Wolverhampton FC. Em nono lugar, aparece o Sporting CP, com 209 milhões, onde desponta João Mário por quem o FC Internazionale pagou 46 milhões. E em primeiro lugar, à frente do Real Madrid por cerca de 50 milhões, está o SL Benfica, com 379 milhões, tendo em João Félix e na sua venda para o Atlético de Madrid por 126 milhões o expoente máximo de receitas com a venda de um único jogador.

Os clubes portugueses, com o SL Benfica à cabeça, têm sido extraordinariamente bem-sucedidos no modelo de formação, valorização e venda de jogadores. E é esta performance extraordinária que nos tem permitido estar regularmente entre a elite do futebol europeu. Em 2018/19, de entre os 16 clubes que passaram a fase de grupos da Liga dos Campeões, SL Benfica e FC Porto eram, respetivamente, penúltimo e último no que às receitas operacionais diz respeito, com cerca de metade da média de receitas dos clubes que passaram em segundo lugar dos respetivos grupos e cerca de um quarto dos que passaram em primeiro.


É precisamente neste contexto que se torna óbvia a importância das receitas extraordinárias na capacidade das equipas portuguesas de formarem planteis competitivos nas provas europeias. Mais receitas extraordinárias sustentam planteis mais competitivos que depois chegam a fases mais adiantadas da prova onde dão palco a novos talentos que geram mais receita futura. Ninguém na Europa tem conseguido ensaiar tão bem este círculo virtuoso como nós. O peso das receitas por via das participações nas competições europeias nas receitas totais é o maior de todas as ligas europeias, quase o dobro do país que se segue – a Bélgica, com mais de 20%. O futebol português, tão mal tratado pela maioria dos paineleiros do costume nos programas de debate de futebol na televisão, tem tido a capacidade de se projetar muito para além do que seria de esperar. Basta lembrar que os clubes são sistematicamente criticados por vender jogadores, acusados de o fazerem por não serem sustentáveis financeiramente. Mas, se for uma empresa a ter sucesso a exportar para os principais mercados, já é um grande exemplo para a economia nacional.

Não existe mais nenhum setor de atividade económica em Portugal, que de forma sistemática tenha o sucesso e visibilidade internacional que o futebol português tem tido. Bélgica e Holanda são dois países com fortíssimas tradições no futebol, com mercados maiores e com bastante mais poder de compra e que ficam sistematicamente atrás de nós. Mas há a quem interesse a narrativa de que está tudo mal, de que é preciso reinventar o futebol português, de que é preciso criar tachinhos e tachetas para tirar o dinheiro de onde ele deve ficar: nos clubes.


Vem isto a propósito da ascensão meteórica de Gonçalo Ramos. Depois da extraordinária exibição no jogo com a Suíça, que lhe valeu para já a distinção de melhor exibição individual de todo o torneio até à data, começam-se a fazer contas aos euros que o verão (ou este inverno) trará. A sua saída é pouco menos do que uma certeza. É um jogador que nunca foi 100% consensual no universo Benfiquista. Parece-me que a estrutura crê, erradamente, na minha opinião, que é de fácil substituição e que terá atingido o seu pico de valorização, apesar de ter apenas 21 anos. Mas, independentemente de considerações de ordem técnica, vender é um imperativo enquanto o grosso da capacidade financeira dos clubes portugueses vier das receitas que geram nas competições nacionais. O que os adeptos pedem é que se tire rendimento desportivo antes de se tirar o rendimento financeiro. Até porque os dois andam de lado a lado. Nada custa mais ao adepto Benfiquista que ver Bernardo Silva a espalhar classe por todo lado sem nunca o ter feito com a camisola do SL Benfica. De perceber que fomos capazes de vender um Darwin por €80m, mas apenas recebemos 15 milhões pelo Bernardo Silva.

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Pedro Brinca
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