Neste, como noutros temas, lamenta-se que nada seja dito aos Sócios, sendo que é bom lembrar que a “primeira premissa” de Rui Costa enquanto Presidente é “máxima transparência”.

Em setembro de 2021, Rui Costa ocupou o papel de Presidente do Benfica numa reunião que a Liga gosta de chamar Cimeira de Presidentes. À data, fazendo questão de dizer que não estava ali em campanha eleitoral para as eleições do mês seguinte, afirmou que o Benfica “não irá sair, com certeza, prejudicado deste processo” de centralização dos direitos audiovisuais. Palavras encorajadoras para os mais desatentos, ocas para quem já sabia que para que isso seja possível seria necessário que o total do valor a distribuir pelos clubes mais que duplicasse em relação aos valores de então.

Rui Costa foi entretanto eleito, tornando-se de facto Presidente do Sport Lisboa e Benfica e Domingos Soares de Oliveira nomeado administrador da Liga Centralização. Desde então, pouco ou nada disseram sobre o assunto. Uma reunião com o Secretário de Estado do Desporto e mais duas cimeiras de presidentes não foram suficientes para dar qualquer informação aos Sócios sobre o que teria sido discutido ou quais as posições do Benfica. Neste, como noutros temas, lamenta-se que nada seja dito aos Sócios, sendo que é bom lembrar que a “primeira premissa” de Rui Costa enquanto presidente é “máxima transparência”.

A título de exemplo, Pedro Proença repetiu já várias vezes que o modelo espanhol é um possível modelo a seguir. Ou seja: 50% da receita é distribuída equitativamente, 25% pela performance desportiva da época anterior e os restantes 25% através dos “processos de implementação das marcas dos clubes no espaço nacional” (seja lá o que isto for e como se medirá...). O Benfica defende isto? É este modelo que Domingos Soares Oliveira quer implementar? Não creio que os interesses do Benfica fiquem salvaguardados. Não há outro país europeu (talvez a Roménia) onde exista um clube tão predominante a todos os níveis – número de sócios, adeptos e palmarés –, como tal, o que faz sentido é olhar para a nossa realidade e aplicar um modelo que a ela se adeque e não importar um modelo só porque funciona noutro país. O que faz sentido é servir o Benfica e não um futebol português que repetidamente nos falta ao respeito, clubes cujos dirigentes e adeptos nos odeiam, clubes que contra nós praticam crimes e clubes cúmplices disto tudo.

A narrativa dos responsáveis do Benfica irá manter-se e sendo ajustada conforme as necessidades: a centralização dos direitos audiovisuais será excelente para o futebol português e o Benfica só tem a beneficiar (indiretamente) com isso.

Penso que já perceberam que diretamente será impossível, muito menos de forma antecipada como continuam a fazer-nos crer. Pode ser que, a seu tempo, possam levar a sério os alertas feitos, os apelos para que exista uma discussão séria e alargada com os Sócios do Clube e que se estudem todas as alternativas possíveis, incluindo a rejeição de uma centralização imposta de uma forma unilateral via legislação, mas que não obriga ninguém a participar. Já alguém se interrogou se a lei exclui a possibilidade de os clubes explorarem os seus próprios direitos audiovisuais?