Bernardo Alegra
Biografiado Autor

20 Fev 2024 | 09:50

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Bernardo Alegra

O Benfica tem variado exibições sofríveis com algumas mais competentes e, quase sempre, dentro do mesmo jogo conseguimos assistir ao lado virtuoso e vicioso da força.


O Benfica tem variado exibições sofríveis com algumas mais competentes e, quase sempre, dentro do mesmo jogo conseguimos assistir ao lado virtuoso e vicioso da força.


Depois de uma das piores exibições em casa de que me recordo na era Schmidt, frente a um adversário europeu que o ano passado deixaríamos sem qualquer esperança de se manter em prova, o alemão resolveu mudar meia equipa. E para surpresa de muitos, eu incluído, vimos uma das melhores primeiras partes de toda a época. Os quatro da frente conseguiram ressuscitar a há muito desaparecida e reclamada pressão alta, resultando daí mais recuperações de bola em meio-campo adversário do que no seu próprio meio-campo (9 vs 5!) e destas, golos!


O adepto desconfiado assistiu, com surpresa, a uma exibição de puro sufoco do adversário baseada numa pressão alta eficaz, quatro jogadores em constante movimentação a desorientar a defesa adversária (neste capítulo destacou-se Tengstedt que só pecou na finalização), apoiados pelo melhor João Mário da época, também ele bem a pressionar e a ritmar o jogo em conjunto com o gigante João Neves.

Destaque ainda para as subidas constantes de Bah, que está claramente mais confortável a jogar com Neres à frente do que com Di Maria já que o primeiro cria condições e respeita as suas subidas, e para a velocidade de Tomás Araújo a anular com eficácia as poucas saídas que o Vizela ia conseguindo fazer.

Foram quarenta e cinco minutos de luz com Neres a brilhar acima de todos.

Veio o intervalo e o sócio e adepto nem queria acreditar no que tinha acabado de ver. Não porque o Benfica não fosse muito superior ao adversário, o que em qualquer circunstância é, mas porque este ano ainda não tínhamos assistido a nada de parecido.

Chega a segunda parte e depressa desaparece o entusiasmo. Logo pela incompreensível substituição de Rafa por Di Maria. É difícil perceber o que pretendia Schmidt com esta alteração, mais ainda quando num jogo com cinco golos de vantagem vai meter mais quarenta e cinco minutos nas pernas do argentino de trinta e seis anos, com o banco cheio de outros a reclamar mais tempo de jogo. Efeito imediato o Benfica deixa de pressionar eficazmente o adversário e Bah deixa de participar no ataque com a mesma eficácia. A juntar a isto Trubin faz o seu primeiro erro da época com os pés (inacreditáveis alguns, felizmente poucos, assobios que se ouviram das bancadas) e o cenário só não piorou porque o ucraniano se redimiu a defender mais um penalty criado pelo pior jogador em campo, Morato.

Seguiu-se a entrada de Aursnes para a posição do meio-campo onde provavelmente rende menos, a promoção de Carreras a extremo esquerdo (tínhamos Neres e Di María em Campo e Rollheiser no banco...) e as 2 substituições de praxe aos 87, que resultaram em mais uma finalização de Marcos Leonardo, graças à segunda assistência do inevitável Neres.

E assim terminou mais uma tarde na luz em que o adepto, em vez de sair eufórico pela goleada, voltou a sair desconfiado pelos sinais dados pela equipa e treinador na segunda parte.

Que conclusões conseguimos tirar daqui? A primeira é que o Benfica tem um plantel profundo e com muitas soluções para diferentes estilos de jogo.

Em segundo que a ausência da famosa pressão alta é mais uma questão de intérpretes do que de escolha.

A terceira é que há um trade-off muito marcado entre o que Di Maria oferece à equipa de positivo e negativo, pelo que se percebe ainda menos a insistência de Schmidt em dar-lhe sempre a titularidade e quase sempre os noventa minutos.

A quarta é que já não vale a pena falar de Morato e que se Carreras não é alternativa (e o jogo com o Toulouse não mostrou que fosse), então o Benfica voltou a falhar redondamente no mercado porque, mesmo que o espanhol possa ser uma aposta de médio prazo, a necessidade é de curto prazo.

Por último, Schmidt tem toda a razão em duas coisas que disse na conferência de imprensa:

- Que o treinador do Benfica vai ser sempre questionado;

- Que ele está ali para tomar decisões.

O problema é quando muitas dessas decisões são difíceis de compreender porque delas não resultam melhorias evidentes na equipa. E se Schmidt não quer ou não é capaz de as explicar, não podemos esperar que o adepto, hoje muito mais informado sobre tática e jogo do que há vinte anos, não desconfie e revele o seu desconforto.

Espero que o alemão faça a leitura correta do que de bom este jogo teve, mas desconfio, muito.


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