Quando o erro deixa de ser acaso e passa a método
Em causa estão as polémicas associadas ao encontro entre Braga e Benfica, que ficou marcado por inúmeros lances que não foram devidamente ajuizados
31 Dez 2025 | 03:00
Em causa estão as polémicas associadas ao encontro entre Braga e Benfica, que ficou marcado por inúmeros lances que não foram devidamente ajuizados
O que se passou neste fim de semana na Liga Portugal, com especial incidência no Braga–Benfica, não é apenas mais um capítulo infeliz da já longa novela da arbitragem em Portugal. É um ponto de rutura. Um daqueles momentos em que deixar passar em branco é ser cúmplice.
Invalidar um golo limpo ao Benfica com base numa falta inexistente de Richard Ríos, previamente ao passe que dá o golo, não é um erro de interpretação. É um erro crasso, grosseiro, indefensável. E mais grave ainda: validado, confirmado e carimbado por um VAR que tinha todas as imagens, todos os ângulos e todo o tempo do mundo para fazer aquilo que é suposto fazer - corrigir erros claros e óbvios. Não corrigiu. Validou o absurdo.
Como se isto não bastasse, somos confrontados com a desfaçatez institucional de ver nomeado como VAR Tiago Martins, o mesmo que esteve na final da Taça de Portugal e não conseguiu “ver” uma agressão clara a Andrea Belotti. A questão já não é se erra. A questão é porque continua a ser escolhido. E aqui entramos no domínio da responsabilidade política e institucional da Federação Portuguesa de Futebol e, em particular, do seu Conselho de Arbitragem, até porque a atuação de Tiago Martins como VAR na final da Taça de Portugal, deixou o CA da FPF muito desagradado e determinou a sua ausência em jogos seguintes, o que o impediu de se despedir (com a dignidade que não merecia) da sua medíocre carreira enquanto árbitro principal. Esta decisão seguiu uma política de responsabilização dos árbitros que seria um dos compromissos para a época em curso por parte do elenco liderado por Luciano Gonçalves no CA da FPF, tendo, ainda, Tiago Martins, contribuído para que ficassem sérias dúvidas da sua continuidade como VAR para esta temporada. E o que é que aconteceu? Nada! Como sempre, aliás. Ou é esquecimento, ou gozação, ou está tudo doido e só eu é que ainda não percebi! Falta de bom-senso, é, certamente, consequências é que são nenhumas. A menos que as consideremos tão eficazes quanto a “política de responsabilização dos árbitros”, ou tão firmes quanto os “compromissos para a época em curso por parte do elenco liderado por Luciano Gonçalves”. Que eles lá andam a fazer alguma coisa, lá isso andam, nem que seja o fluído que se liberta pela “porta de saída” do intestino grosso, considerando que pela boca também não entra mosca…
Isto não é perseguição? Talvez não no sentido clássico. Mas é, no mínimo, uma sucessão de decisões e nomeações que demonstram uma absoluta insensibilidade para com a desconfiança crescente dos adeptos e, em particular, dos benfiquistas. A perceção de benefício reiterado a um clube - sim, falo do Sporting - não nasce do nada. Nasce da acumulação. Dos critérios que mudam consoante a camisola. Dos lances idênticos com desfechos opostos. Da tolerância disciplinar que uns têm e outros não.
Há ainda um capítulo particularmente deprimente - e, confesso, revoltante - em tudo isto (que poderia levar o título “os ex-árbitros de serviço: quando o apito se cala, mas o critério continua morto”): o papel dos ex-árbitros convertidos em comentadores televisivos e analistas de ocasião. Homens que já foram maus árbitros no ativo e que conseguem o prodígio de ser ainda piores quando libertos do cronómetro e do relvado.
São sempre os mesmos. Aqueles que erravam com convicção enquanto árbitros e agora analisam com soberba. Aqueles que confundem corporativismo com rigor técnico e acham que defender o erro é uma forma de “dignificar a arbitragem”. Não dignifica nada. Apenas a afunda.
Validar a anulação daquele golo do Benfica é um exercício de ginástica argumentativa digno de circo. Não há ali falta. Não há intensidade. Não há ação negligente. Não há nada. Zero. E quando um analista precisa de três minutos, dois gráficos e um tom paternalista para justificar o inexistente, o problema não é do futebol - é do analista.
O mais irónico - e aqui entramos no domínio do grotesco - é que os mesmos que juram a pés juntos que aquilo é “falta clara” seriam os primeiros a dizer, com ar solene, que “o futebol não pode ser assim” caso o lance fosse dentro da área contrária. Porque todos sabemos a verdade inconveniente: se aquela ação fosse defensiva, jamais, em circunstância alguma, seria marcado penálti. Jamais. E isso diz tudo sobre os critérios. Ou melhor, sobre a ausência deles.
Mais: basta revisitar lances absolutamente idênticos envolvendo outras equipas - curiosamente quase sempre as mesmas - para perceber que, noutras latitudes cromáticas, aquilo é “intensidade normal”, “contacto de jogo” ou “futebol a sério”. Para o Benfica, é falta. Para os outros, é competitividade. O nome disto não é interpretação. É seletividade.
No fundo, estes ex-árbitros-analistas (que fazem número numa legião de comentadores nacionais que parecem ainda estar à espera da próxima nomeação para um painel qualquer) não comentam lances: gerem narrativas. Não explicam decisões: normalizam absurdos. E fazem-no quase sempre com o mesmo resultado final - o Benfica está errado, o árbitro esteve bem, o VAR fez o que podia. Uma espécie de bingo argumentativo onde o resultado nunca muda.
Talvez esteja na altura de dizer o óbvio: quem não teve critério em campo dificilmente o ganhará num estúdio, ou nas páginas de um jornal (a menos que se dedique à escrita humorística, como é o caso do ‘Tribunal’ do jornal ‘O Jogo’). E quem passou uma carreira a errar contra evidências não se transforma, por milagre, em farol de verdade só porque agora usa fato e gravata.
O problema não é o Benfica contestar. O problema é fingirem que isto é normal. Porque não é. E nunca será
E enquanto isto acontece, o Benfica parece estar entregue a si próprio. A sua estrutura diretiva e a sua comunicação institucional optam pelo silêncio estratégico, pela moderação calculada, pela esperança ingénua de que “não criar ruído” trará justiça. Não traz. Nunca trouxe. O silêncio, neste contexto, é interpretado como fraqueza. E o futebol português, infelizmente, respeita pouco quem não levanta a voz.
Há ainda um elefante na sala que ninguém quer assumir frontalmente: a posição de força do Benfica no processo da centralização dos direitos televisivos. Um clube que não aceita os termos que lhe querem impor, que tem massa crítica, audiência e poder negocial, é um incómodo. E em Portugal, historicamente, os incómodos pagam fatura. Se alguém acha que estas coisas são compartimentos estanques, vive numa ingenuidade perigosa.
Não peço impunidade. Peço critérios. Não peço favorecimento. Peço equidade. Mas quando o erro é sempre para o mesmo lado, quando as explicações são sempre vazias, quando as nomeações parecem provocações, então sim: a paciência acaba. E a indignação torna-se dever cívico.
A Federação e o Conselho de Arbitragem não podem sair incólumes porque são eles que tutelam, escolhem, avaliam e promovem. Cada erro repetido é um espelho da sua incompetência ou da sua conivência. E qualquer uma das duas é inaceitável.
O Benfica não pode aceitar ser tratado como um estorvo. Os seus adeptos não podem continuar a engolir em seco. Porque isto já não é apenas futebol. É credibilidade institucional. E essa, ao contrário dos golos anulados, quando se perde, não há VAR que a recupere.
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