Em 2021, o FC Porto, o Vitória SC e o Sporting CP transacionaram, entre si, seis atletas, movimentando um total de 52 milhões de euros…

Confesso alguma dificuldade para lidar com a estupidez.

Ando numa espécie de terapia e já trouxe para cima da secretária “A Psicologia da Estupidez”, mas receio poder vir a começar a compreender a verdadeira dimensão da estupidez humana e como não sei se vou gostar, ainda não abri o livro.

Pior é lidar com estúpidos, ainda pior é quando esses estúpidos somos nós... pelo menos é assim que me sinto quando leio o seguinte: “a investigação (que condenou a Juventus à perda de 15 pontos no campeonato italiano e levou à suspensão de 11 dos seus dirigentes) incidiu sobre alegados ganhos de capital fictícios na compra e venda de jogadores, redução de salários durante a primeira vaga da pandemia da Covid-19 e faturação falsa”. E continua: “a investigação dos procuradores incidiu sobre os anos entre 2018 a 2020, época em que os valores de vários jogadores terão sido decididos de ‘forma arbitrária’ tendo em conta ‘as necessidades do balanço da época’, com os movimentos sobre os salários dos jogadores a terem um efeito no orçamento aprovado em outubro de 2021 de 27 milhões de euros”.

Então e onde começa (e parece não acabar) o processo de estupidificação?

Vejamos: no verão de 2021, o FC Porto, o Vitória SC e o Sporting CP transacionaram, entre si, seis atletas (dois do FC Porto para o Vitória SC e vice-versa, e um do FC Porto para o Sporting CP e vice-versa), movimentando um total de 52 milhões de euros em jogadores que, no site Transfermarket (o mesmo site que serviu de suporte à condenação da Juventus, proferida pelo juiz italiano), não valiam mais, no seu todo, que dois milhões de euros (alguns deles nem valorizados estavam). No caso do FC Porto, estamos a falar de valores que superaram contratações como as de Lucho González, ou Corona, e no caso do Sporting CP, tanto quanto o valor pago, nessa janela de mercado, como as aquisições de Ugarte e Esgaio. No caso concreto do FC Porto, trata-se de jogadores que permanecem desconhecidos (como convém), sem um único minuto na equipa A e que nem sequer titulares são na respetiva equipa B. Como se o facto de FC Porto estar sob a alçada do fair-play financeiro da UEFA não tivesse nada a ver com isto...

Sou só eu que vejo que há aqui qualquer coisa que não bate certo, ou serei, mesmo, só estúpido? Não há ninguém que, pelo menos, venha dizer que em Portugal as coisas não são assim? É que se assim fosse, ou for, já estamos habituados... afinal são 40 anos disto!!

A impunidade que teima em fazer o seu curso para com outros clubes, já não se verifica quando o SL Benfica é alvo da abertura de um processo disciplinar, pelo Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol, baseado em notícias nos órgãos de comunicação social e numa constituição de arguidos sem factos conhecidos, para ser suspenso 24 horas depois, sem que ninguém tenha vindo explicar o que quer que seja, fazendo de todos nós o quê? Pois claro... estúpidos! (é sempre melhor fazer dos outros estúpidos, do que passarem os próprios por vergonhas)

Federação Portuguesa de Futebol, essa, que continua a não dar quaisquer explicações sobre o contrato celebrado e o términus do mesmo, com uma empresa detida pelo anterior selecionador nacional (parece que vai haver uma audição parlamentar... será?), e também não diz em que moldes, nem por quanto fez, agora, contrato com o novo selecionador nacional. Será que estamos numa lógica continuada de prestação de serviços por parte de uma qualquer Romacosa U.P.?

Muito silêncio, faz de conta e passa-culpas, prática, aliás, muito comum um pouco por toda a nossa sociedade. Eu, mero e humilde integrante da mesma (mas inflamado Benfiquista), ganho coragem, abro a primeira página do livro e leio “cada um vê, ouve, lê estupidezes todos os dias, sem exceção. (...) Somos todos estúpidos ocasionais, fazendo asneiras de passagem sem que isso tenha demasiadas consequências. A questão reside em ter consciência disso e em lamentá-lo, dado que o erro é humano e que falta confessada é meio perdoada. Somos sempre o estúpido de alguém, mas raramente de nós mesmos...”.

Saber eu, e todo o Portugal, o que alguns fizeram há dois verões passados, pouco, ou nada, parece interessar. Sendo assim, eu, estúpido me confesso, mas, prefiro ser de mim mesmo, do que fazerem de mim estúpido. E antes estúpido ocasional, que parvo todos os dias!

Viva o Benfica!