Entre a continuidade da mudança e a mudança da continuidade…
A forma como os sócios votarem dirá muito sobre o que valorizam: a continuidade de um modelo que lhes garantiu estabilidade ou a coragem de abrir uma nova era.
29 Out 2025 | 03:07
A forma como os sócios votarem dirá muito sobre o que valorizam: a continuidade de um modelo que lhes garantiu estabilidade ou a coragem de abrir uma nova era.
As eleições do Sport Lisboa e Benfica voltaram a provar que o Glorioso é muito mais do que uma instituição desportiva: é um universo emocional, político e social que vive intensamente cada voto. Com uma afluência recorde (mundial!!) de mais de 85 mil sócios votantes, o ato eleitoral de 25 de outubro de 2025 tornou-se um marco na história do Benfica. Nenhuma lista obteve maioria absoluta, e a direção do clube será decidida numa segunda volta inédita, marcada para dia 8 de novembro.
À frente surge Rui Costa, atual presidente, e, logo atrás, João Noronha Lopes, que se consolidou como principal adversário, garantindo presença no embate decisivo. Em terceiro lugar ficou Luís Filipe Vieira, regressado ao panorama eleitoral, que obteve um resultado que, embora distante da liderança, poderá revelar-se decisivo na redistribuição de apoios.
Mais do que números, o resultado da primeira volta é um espelho do Benfica atual: um clube dividido entre o desejo de continuidade e a vontade de mudança. Rui Costa apresenta-se como o garante de estabilidade e continuidade institucional, representando o prolongamento natural do projeto iniciado há quatro anos. O seu discurso tem sido o da responsabilidade, da serenidade e da defesa da benfiquismo como valor identitário.
Noronha Lopes, por outro lado, surge como o rosto da alternativa. Tenta capitalizar o sentimento de desgaste acumulado e a perceção de que o Benfica precisa de “virar a página” - quer em termos de gestão desportiva, quer de transparência (o que me parece que não cola e lhe terá ‘roubado’ alguns votos na reta final da campanha). A sua campanha apostou numa mensagem de reforma interna (com um organograma que, ainda assim, me parece quantitativamente excessivo), prometendo profissionalismo, modernização e uma relação mais direta com os sócios.
A primeira volta deixou claro que nenhuma destas visões é dominante, ainda que revele uma clara tendência. O eleitorado benfiquista está repartido quase ao meio (este ‘quase’ é uma figura de estilo, mas como não quero ferir suscetibilidades e sou muito respeitador, fica assim), o que abre caminho a uma das disputas mais imprevisíveis da história recente do clube, ainda que a pender, aritmeticamente, no sentido da continuidade, ou da estabilidade, se aos votos de Rui Costa somarmos os de Luís Filipe Vieira (a tal tendência). Eu disse, aritmeticamente…
Com o cenário definido, entra-se agora numa fase decisiva. Rui Costa parte em vantagem, mas enfrenta um desafio estratégico complexo: consolidar o seu eleitorado e evitar a erosão natural que as segundas voltas costumam provocar. A estrondosa participação eleitoral na primeira volta não se irá, certamente, repetir, e qualquer voto que, desta vez, fique em casa, estou em crer, será menos um voto em Rui Costa, pois dá-me a ideia que a afluência brutal que se verificou, também aconteceu em função da rejeição a Noronha Lopes e, não só, por afinidade ao incumbente.
Noronha Lopes, por outro lado, sabe que tem pouco a perder e muito a ganhar. A chave poderá residir na forma como cada candidato vai disputar o voto dos apoiantes de Luís Filipe Vieira e das restantes listas, com a de João Manteigas à cabeça, pelo peso e características do seu eleitorado, a que acresce o facto de o próprio já ter assumido que irá votar em Noronha Lopes na segunda volta.
É aqui que entram os bastidores - as alianças, os apoios públicos e a capacidade de negociar compromissos sem perder coerência política. Um eventual apoio de Vieira a Rui Costa poderia selar a vitória do atual presidente, mas também comprometer a narrativa de “renovação” que este procura sustentar, embora jamais possa renegar essa possibilidade, nem que seja, somente, na ilusão da aritmética. Por outro lado, um apoio tácito a Noronha Lopes – o que não me parece, de todo, previsível – reconfiguraria completamente o mapa eleitoral, podendo transformar o que parecia um desfecho previsível num autêntico plebiscito interno.
Mais do que nunca, esta segunda volta vai, ainda mais, medir a inteligência política dos candidatos e a maturidade democrática dos sócios. O que está verdadeiramente em jogo não é apenas a presidência - é o rumo identitário do Benfica, algo a que Rui Costa se agarra e Noronha Lopes se desprende. A forma como os sócios votarem dirá muito sobre o que valorizam: a continuidade de um modelo que lhes garantiu estabilidade ou a coragem de abrir uma nova era.
O Benfica chega a esta eleição com resultados desportivos irregulares, uma estrutura financeira sólida, mas sob escrutínio, e uma comunicação interna muitas vezes fragmentada. A escolha do próximo presidente influenciará diretamente não só o futebol profissional, mas também a forma como o clube se posiciona no panorama europeu e na relação com os seus adeptos.
O peso da história é grande. Rui Costa carrega o estatuto de ídolo e de herdeiro legítimo de uma linhagem que remonta aos tempos de glória. Noronha Lopes traz consigo o argumento da competência empresarial e da gestão moderna (ainda que colocada em causa no dealbar da campanha). Entre a emoção e a razão, entre a nostalgia e a inovação, os sócios terão de decidir que Benfica querem para o futuro.
Independentemente de quem vencer, o maior desafio virá depois: unir o Benfica e cada um assumir aquilo que foi dizendo, embora um com mais crença e ação do que outro (se há campo onde a credibilidade se joga, é, certamente, neste. As perceções dos sócios em relação a este fator – que é decisivo – é aquela variável que ninguém consegue controlar, por nos ser externa. A postura, uma boa postura e com postura, ou se tem, ou não se tem). Um resultado renhido deixará inevitavelmente feridas internas. E o, ainda que encapotado e, aparentemente, solitário apoio de Manteigas a Noronha Lopes, faz vincar, ainda mais, essa clivagem. Veremos, daqui a 15 dias, se de forma serena e silenciosa, ou abrupta e ruidosa.
A capacidade de construir pontes, integrar equipas e devolver serenidade à massa associativa será fundamental. O novo presidente terá de ser mais do que gestor – terá de ser agregador. Porque o Benfica, mais do que um clube, é uma ideia que se alimenta de paixão e de pluralidade. E só quando essa paixão for canalizada para o mesmo lado – o das vitórias e o da coesão – o clube poderá voltar a ser verdadeiramente imparável.
Estas eleições são, no fundo, uma celebração da vitalidade democrática do Benfica. Num tempo em que muitos clubes vivem à margem dos sócios, a Luz volta a brilhar como espaço de participação e debate. O recorde de votantes é o maior troféu de todos: prova que o Benfica é dos sócios e continuará a ser.
No dia 8 de novembro, quando as urnas voltarem a abrir, não estará apenas em causa quem preside ao clube. Estará em causa que Benfica queremos ser: o da continuidade ou o da reinvenção. E essa resposta, como sempre, caberá aos sócios, os verdadeiros donos da Luz. É possível continuar, mudando; como também é possível mudar, continuando.
Entre a continuidade da mudança e a mudança da continuidade…
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