
Sem projeto desportivo, apenas o caos no ninho da águia!
O fim do mundial de clubes trouxe mais problemas do que resoluções a adotar para a próxima época, desde logo expôs novos problemas disciplinares no balneário
26 Jun 2025 | 14:00
O discurso muda, os protagonistas também, mas o padrão mantém-se: improviso, ausência de rumo e uma gestão de mercearia travestida de estratégia
Na última Assembleia Geral do Sport Lisboa e Benfica, realizada a 7 de junho, o vice-presidente Fernando Tavares voltou a apresentar um cenário já familiar aos sócios: o início de mais um “ano zero” para o andebol. Uma espécie de recomeço, com um novo projeto e novas promessas, tal como tem acontecido com frequência ao longo dos últimos anos. Entre os argumentos apresentados para justificar esta nova reformulação, destacaram-se duas ideias principais: a de que o objetivo será ultrapassar o Porto e a de que os jogadores que estão a ser contratados só aceitaram vir com a perspetiva de jogar a Liga dos Campeões - caso contrário, não haveria meios para os manter por razões financeiras. Nenhuma destas afirmações resiste a uma análise factual.
Comecemos pela questão da Liga dos Campeões. Fernando Tavares deu a entender que, ao terminar à frente do Porto, o Benfica garantiria o apuramento para a competição. Mas a realidade é que isso não corresponde ao regulamento da EHF nem ao panorama atual do andebol europeu. O campeão nacional de Portugal é o único clube com acesso direto à Liga dos Campeões. A outra possível vaga - uma candidatura a convite (wild card) - é atribuída pela EHF com base num conjunto de critérios rigorosos e competitivos, e não está automaticamente associada ao segundo classificado do campeonato. Portugal ocupa atualmente o 9.º lugar no ranking da EHF, com 61.33 pontos, muito distante, por exemplo, da Alemanha, que está no 2.º lugar com 151.33 pontos e dá acesso a duas equipas diretas à Champions League. Este ranking é calculado com base na média dos desempenhos europeus dos clubes de cada país ao longo das últimas três temporadas. Ou seja, não é com um resultado pontual ou com uma classificação interna que se altera esta realidade.
Aliás, o próprio Porto, que tem sido o clube português mais consistente na Liga dos Campeões ao longo da última década, candidatou-se a uma vaga direta para as épocas 2024/25 e 2025/26 e viu ambas as candidaturas recusadas. Nem os bons resultados europeus, nem a experiência acumulada, foram suficientes. Para se perceber o quão exigente e seletivo é o processo de atribuição dos wild cards, basta olhar para os clubes que conseguiram esse acesso em 2025/26. O Szeged, da Hungria, joga num pavilhão com 10 mil lugares e representa um mercado tradicionalmente forte no andebol europeu. O Pelister, da Macedónia, apesar de não vir de um país de topo, apresenta um recinto moderno com capacidade para mais de 6 mil pessoas e um contexto local com forte adesão à modalidade. Já o GOG, da Dinamarca, beneficia de estar num dos mercados mais valorizados pela EHF - não apenas pela qualidade competitiva, mas também pelo peso financeiro e mediático. A TV2 dinamarquesa, por exemplo, é o canal que mais investe na compra de direitos televisivos da modalidade, com emissões de 8 a 10 horas em dia de jogo. Esta é a dimensão do andebol: grandes palcos, forte envolvimento regional e mediatismo. E é aqui que, infelizmente, o Benfica ainda está muito aquém: temos um mercado limitado e saturado, um pavilhão com limitações evidentes para o nível de exigência da prova, e uma presença internacional tímida. Por isso, afirmar que basta ficar à frente do Porto para lá chegar é, no mínimo, ilusório.
Já no plano financeiro, a ideia de que o Benfica só conseguirá manter os novos jogadores se garantir presença na Liga dos Campeões também merece ser questionada. Desde logo, porque o orçamento da secção de andebol para a época 2025/26 já está fechado, e os compromissos com os atletas estão assumidos independentemente da qualificação para a Champions League na próxima temporada — a não ser que se continue a depender de empréstimos e contratos de um ano com cláusulas inaceitáveis. Não há, portanto, qualquer dependência direta entre estar ou não na Champions e ter ou não condições para manter o plantel. Aliás, tudo indica que o orçamento até será semelhante ou ligeiramente inferior ao da época anterior.
Além disso, importa desmistificar o peso financeiro da Liga dos Campeões. Ao contrário do que sucede no futebol, a presença na principal competição europeia de andebol não traz receitas fixas relevantes. A EHF apenas atribui prémios por vitória ou empate. E mesmo as campanhas mais bem-sucedidas têm retornos modestos. O exemplo do Sporting esta época é esclarecedor: após alcançar os quartos de final, naquela que foi a melhor prestação de sempre de um clube português, tendo arrecadado cerca de 250 mil euros em prémios da EHF. Um valor positivo, sim, mas claramente insuficiente para sustentar toda uma estratégia de construção de plantel. A Champions pode ser uma motivação desportiva para os atletas, e é legítimo que o seja, mas não pode ser apresentada como condição de viabilidade orçamental, porque essa narrativa é simplesmente falsa.
Em 2025/26, o andebol do Benfica volta a começar do zero, como tantas outras vezes nos últimos anos sob a alçada de Fernando Tavares. O discurso muda, os protagonistas também, mas o padrão mantém-se: improviso, ausência de rumo e uma gestão de mercearia travestida de estratégia. Não será a entrada na Liga dos Campeões nem o simples facto de terminar à frente do FC Porto que resolverão o essencial. O que falta ao andebol do Benfica não são promessas nem contratações sonantes - é liderança. Uma liderança com visão, competência, planeamento e capacidade de construir um projeto sustentado. Enquanto essa pessoa não aparecer, o ciclo de recomeços continuará. E os resultados, infelizmente, também.
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