O Benfica é grande demais para desaparecer, mas nenhum clube é grande demais para minguar e deixar de ser o Maior de Portugal

 Imaginem um entreposto automóvel de grande dimensão. Trabalha com carros novos, a maior parte dos quais montados na sua fábrica, mas também com carros usados que compra a preços baixos para revender.

A maior parte dos novos modelos não vingam e o Entreposto acaba por vendê-los a outros entrepostos ou a revendedores mais pequenos.

Os poucos que vingam acabam por pagar todo o investimento em Investigação e Desenvolvimento feito pelo Entreposto na sua fábrica, pelo que há uma grande pressão para os vender rapidamente, apesar de que muitas vezes ainda são um produto em desenvolvimento e, se houver paciência, algum tempo depois apresentam ao mercado modelos melhorados e com muito mais valor do que se forem lançados ao mercado numa fase inicial.

Já os carros usados são mercadorias que são compradas para melhorar e valorizar para depois voltar a colocar no mercado a preços bastante mais elevados.

O problema é que estes carros nem sempre conseguem ser melhorados pelo que, pouco tempo depois, podem valer bem menos do que no momento da compra.

Como se pode perceber, o Entreposto é uma empresa de grande dimensão, que mexe com muito dinheiro pelo que atrai muita gente, seja para negociar com o Entreposto, seja para trabalhar no Entreposto.

Sofre por isso de dois males comuns em empresas desta dimensão: devido à sua dimensão tornou-se ineficiente e como o foco da empresa é comprar e vender carros, ainda ninguém na direção se apercebeu que, porque os custos fixos da empresa são cada vez maiores, a empresa tem de comprar e vender cada vez mais carros, para poder pagar a estrutura e o investimento em Investigação e Desenvolvimento; este fluxo permanente de negócios atrai intermediários, especialistas em encontrar quem compre ou a quem vender os carros e que, também eles, levam uma parte da margem de negócio, o que, mais uma vez, obriga a empresa a vender mais ou numa fase em que os seus carros ainda não desenvolveram os modelos mais valiosos.

Acresce que para alimentar toda esta máquina o Entreposto contraiu uma dívida significativa e que, por isso, tem um serviço de dívida equivalente ao custo de um carro usado de muita qualidade, que, não existindo ou sendo significativamente mais pequena, daria ao Entreposto margem para poder desenvolver melhores modelos antes de os colocar no mercado.

Em resumo é uma empresa com uma estrutura muito pesada e cara, que não vende os seus carros quando estão no seu “prime”, com uma divida significativa e cada vez mais refém de intermediários que, a custo de muitos milhares de euros, “despacham” os carros do entreposto, para evitar que este caia numa situação financeira insustentável.

Por tudo isto o Entreposto devia ser, mas não é, a melhor empresa de comercialização de automóveis. Esse lugar foi tomado por empresas mais pequenas e ágeis, mais focadas em serem os melhores e muito menos em serem os maiores e que mais negoceiam.

Por serem melhores, a médio prazo, atrairão mais e melhores clientes que, por serem mais bem tratados, serão mais fiéis às marcas por eles comercializados.

Algures no tempo o Benfica transformou-se neste Entreposto.

Um clube refém de um monstro financeiro que ninguém, ou muito poucos, quer por a mão.

Um clube que não percebe que se não o fizer, mais tarde ou mais cedo vai ser obrigado a fazê-lo, com custos, financeiros e sobretudo desportivos, muito maiores.

Um clube que não trata ou destrata quem o ama, sejam eles sócios ou jogadores que nele cresceram e cujo maior sonho é vencer tudo pelo Benfica.

Um clube que tem uma comunicação que em vez de defender atletas e promover a sua relação com sócios e adeptos, só serve para controlar os danos causados por todas as decisões que os seus dirigentes tomam, contra os verdadeiros interesses deste.

O Benfica é, para desespero de quem o ama, um clube capturado por este mecanismo e que, por isso, tem cada vez menos alma.

O Benfica é grande demais para desaparecer, mas nenhum clube é grande demais para minguar e deixar de ser o Maior de Portugal.