Nuno Campilho
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17 Set 2025 | 19:16

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Nuno Campilho

Rui Costa tem aqui um desafio imenso: reconstruir a confiança dos adeptos e devolver ao Benfica o brilho que, por demasiado tempo, ficou apagado.


Há títulos que parecem feitos de propósito. O de hoje encaixa na perfeição: Bruno Lage saiu do Benfica e, ironicamente, fica a sensação de que já era inevitável.


Já ERA e agora, já é, ou já foi. Como uma porta de um apartamento acabado de ser transacionado, que se fecha à frente de um treinador que, convenhamos, nunca caiu muito nas graças dos adeptos, sem prejuízo daquilo que conquistou e daquilo que vale.


Como poucos, Lage mostrou duas faces distintas de forma demasiado evidente, até para o próprio. A sua postura e o seu futebol padecem de uma incoerência insanável. Mas, ao contrário do que poderão estar a pensar, esta constatação não tem de ser vista como uma crítica gratuita, simplesmente, é o que é, e, com ele, ninguém vai ao engano. Basta assumir que ele não é sempre o treinador que venceu o Nacional da Madeira por 10-0, ou o Porto duas vezes por 4-1, ou o Atlético de Madrid, também por 4-1, assim como também não é sempre o treinador que perdeu 3-1 com o Casa Pia, ou 3-2 com o Qarabag. Nem é carne, nem é peixe e, muito menos, marisco, mas, desse, eu até gosto... dele é que não, como sempre o disse, mas, enquanto foi treinador do Benfica, nunca o critiquei. Mas, agora, já não é… É como um prato bem confecionado, mas, insonso. Podemos por sal depois, mas não é a mesma coisa.

Numa equipa reforçada, com jogadores de qualidade reconhecida, escolhidos por ele, mas que nunca conseguiu transformar esse potencial em futebol convincente, de quem é a responsabilidade?

O Benfica de Lage tinha tudo para ser vibrante, mas mostrou-se repetidamente cinzento. O talento individual nunca se traduziu num coletivo forte. Faltou chama, faltou identidade, faltou aquela alma que se exige a quem veste de vermelho e branco no Estádio da Luz e por esse país e mundo fora.

Não me querendo contradizer, há algo em que o Lage é coerente: a sua incapacidade de se reinventar quando as coisas não correm bem. O plano A, quando falha, raramente tem plano B. Substituições tardias, opções pouco ousadas e uma leitura de jogo que parece não acompanhar o que o mesmo estava a pedir. Era quase como se a equipa ficasse refém das suas próprias limitações, sem liderança, sem um grito de revolta e sem um toque a reunir.

O Benfica tem estado a jogar a três velocidades: devagar, devagarinho e parado; com transições ofensivas arrastadas, sem intensidade nem criatividade. Contra blocos baixos, fica evidente a dificuldade em acelerar, em romper, em criar perigo. E quando as oportunidades surgem, a ineficácia na finalização torna a frustração ainda maior.

Ainda no jogo frente ao Qarabag, a cerimónia e a falta de confiança em frente à baliza, deixaram os adeptos a ferver com tamanho desperdício. Os jogadores parecem desconfiar de si próprios e das suas próprias capacidades. Não arriscam nada, são incapazes de assumir jogadas individuais no ‘um contra um’, não rematam à baliza mesmo quando têm oportunidade para tal e deixaram-se consumir por um exasperante medo de errar. Alguns deles, ontem, se o seu pensamento fosse verbalizado e audível, estariam a gritar para serem substituídos, ou para nem sequer entrarem em campo. Pareciam estar a fazer um frete e, quando até o Aursnes não rende, sabendo que ele nunca joga mal, as dúvidas – a existirem – foram imediatamente dissipadas. A segunda passagem de Bruno Lage pelo Benfica tinha o seu fim anunciado. Podem colocar a placa a dizer DESPEDIDO.

Muito se falou – e eu também – com propriedade e fundamento, diga-se, da renovada postura defensiva do Benfica, alicerçada em dois médios intensos e agressivos, que aliviavam os seus colegas defesas de demasiada pressão e de estarem sujeitos à exposição a que foram estando, pelo menos, nas duas últimas épocas. Deixámos de ver adversários a terem 30 metros para correr livremente, ‘buracos’ nas costas da defesa e superioridade nas alas… até há quatro jogos atrás, sensivelmente (Estrela, Alverca Santa Clara e Qarabag). Não por acaso, foram sete jogos consecutivos sem sofrer golos. E, de repente, a debacle: erros de marcação, falhas de concentração e lances comprometedores passaram a dar a sensação de uma defesa amadora em jogos de exigência máxima. Logo, torna-se difícil ganhar quando se oferece tanto ao adversário.

Como é que a vencer por 2-0 e a controlar o jogo, tudo, de repente, se desmorona (já para não falar na perda de 2 pontos, ao cair do pano, perante um adversário a jogar em inferioridade numérica)? Eu não vislumbro explicação, mas, o que é um facto, é que se instala o nervosismo, multiplicam-se os erros e a confiança desaparece. De dominador a dominado, de favorito a derrotado. É esta a história do último mês. Se a história poderá ser reescrita, ou se ficamos por aqui, naquilo que demonstrou ser uma penosa inabilidade por parte do treinador, os próximos tempos poderão dar resposta.

Bruno Lage já não é o treinador, ponto, apontem baterias para outro lado. Que pode ser para a direção e para o seu presidente, que têm de assumir a sua parte da responsabilidade. E Rui Costa já o assumiu, na conferência de imprensa em que anunciou a dispensa do treinador. Agora resta-lhe (e não tem muito tempo para isso, com eleições à porta – tempo… mais uma infelicidade do Lage… dizer que o Benfica não tem tido tempo… alguém que lhe lembrasse das palavras do grande Toni, que ainda ontem vimos em consternação e indisfarçável sofrimento ao lado do Rui Costa “no Benfica não há tempo de pedir tempo” –) conseguir que o clube reencontre a sua identidade dentro e fora do campo (que, em bom rigor, despareceu desde o último título, conquistado por Roger Schmidt… alguém sabe dizer como o Benfica joga? De entre jogar em função do adversário, e jogar sempre da mesma maneira, antes esta, e até parece que ainda lhe estamos a pagar o contrato, portanto…)

Rui Costa, que se reapresenta como líder em continuidade, tem aqui um desafio imenso: reconstruir a confiança dos adeptos e devolver ao Benfica o brilho que, por demasiado tempo, ficou apagado. Mais do mesmo, já vimos que não resulta (a não ser na forma de jogar da equipa, assim haja uma) e, certamente, ele também já viu e sente-o como poucos, pelo que ainda acredito que seja capaz, ou não fosse o Benfica demasiado grande para cair.

Como li escrito num jornal desportivo, “alugaram um quarto e dormiram ao relento”. O quarto, Já ERA, e no Relento até que não se come mal… é marisco e tem sal.

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Nuno Campilho
Nuno Campilho

17 Set 2025 | 19:16

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Bruno Lage já ERA

Rui Costa tem aqui um desafio imenso: reconstruir a confiança dos adeptos e devolver ao Benfica o brilho que, por demasiado tempo, ficou apagado.

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Nuno Campilho
Nuno Campilho

Bruno Lage já ERA

Rui Costa tem aqui um desafio imenso: reconstruir a confiança dos adeptos e devolver ao Benfica o brilho que, por demasiado tempo, ficou apagado.

17 Set 2025 | 19:16

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Pedro Jerónimo
Pedro Jerónimo

O síndrome da escassez técnica e da fantasia!

Nada mais a acrescentar até ao final dos primeiros 45 minutos e o empate a verificar-se na Luz e com toda a justiça, com um Benfica incapaz de provocar perigo.

13 Set 2025 | 00:14

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Tozé Santos e Sá
Tozé Santos e Sá

APONTAMENTO – Vermelho e Branco – IRONIA DO DESTINO

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11 Set 2025 | 17:44

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