Nuno Campilho
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06 Ago 2025 | 11:15

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Nuno Campilho

A vitória do Benfica, por sua vez, não foi uma obra do acaso, mas de uma equipa que soube ser fria, competitiva e eficaz.


Há um conceito tão fascinante quanto inquietante, explorado com brilhantismo por Carlo Cipolla: o paradoxo da estupidez humana. Um dos seus pilares é este: os estúpidos são aqueles que prejudicam os outros… sem ganhar nada com isso. Mas há uma variante moderna, e muito portuguesa, deste fenómeno: o indivíduo que erra – visivelmente, publicamente, quase didaticamente – e se recusa a admiti-lo. Pior: que o transforma em ato de génio, como quem tenta vender um Picasso rabiscado por um pombo.


Eis que surge Rui Borges, o treinador do Sporting, com a solenidade de um oráculo grego e a modéstia de um livro de autoajuda intitulado ‘Como ser o melhor do mundo sem ganhar absolutamente nada’. Aos mais sensíveis, não se abespinhem, estou a falar da época agora iniciada.


Após o jogo da Supertaça, que o Benfica venceu com justiça, embora sem alarde, demonstrando um realismo condizente com o momento da equipa (a carecer de maior coesão e de aumentar os indicies físicos) e uma racionalidade antónima da qualidade de ser estúpido que os jogadores indiciaram (a carecerem de entrosamento), Rui Borges decidiu oferecer-nos uma lição de realidade paralela.

Segundo ele, o Sporting foi “francamente superior” – e até “merecia ganhar amplamente”. Como se o futebol se jogasse num universo onde posse de bola estéril e passes laterais valessem mais que golos (os pontapés para a frente já valeram, mas quem corria atrás da bola já lá não está…).

Na sua análise, o Benfica terá sido “feliz”. Uma expressão que, vinda de um treinador derrotado, tem sempre o som amargo da uva que não se alcança. No entanto, esquece Rui Borges – talvez por lapso, talvez por conveniência – que tanto a sorte como a felicidade dão imenso trabalho. Que se constroem com rigor, com disciplina, com finalizações que acertam na baliza e não na cabeça dos adversários, até porque o “aqui nós pisa na cabeça” está castigado (mal seria!). Será que o treinador do Sporting imputa essa “felicidade” à infelicidade do seu guarda-redes? Ou devemos achar que fomos “felizes”, porque o último trunfo leonino, para tentar, pelo menos, empatar a partida, foi o Ricardo Esgaio? Eu é que não troco o nosso Richard pelos Ricardos deles, tendo o “coitado” do Rui Silva feito lembrar um outro que, mais de vez, do que em quando, também tinha umas “infelicidades” (bem que podíamos ter sido campeões europeus mais cedo).

Se quisermos ser generosos e aceitar que todos temos direito à ilusão, ao devaneio pós-traumático de uma derrota mal digerida, há ainda a cereja na conferência de imprensa: Rui Borges assegura que “está tudo na mesma”. Curioso. Porque os adeptos, os analistas e até os satélites meteorológicos já notaram que o Sporting mudou o sistema. Pode não ter mudado a eficácia, nem o resultado – que continua a ser uma derrota – mas mudou, sim. Fosse ele tão bom a reconhecer mudanças como é a justificar insucessos, e talvez tivéssemos um caso sério de crescimento profissional (como hoje estou num registo, relativamente, saudosista, o tanto que me lembrei do Paulo Bento ao ouvir falar o Rui Borges).

A vitória do Benfica, por sua vez, não foi uma obra do acaso, mas de uma equipa que soube ser fria, competitiva e eficaz. Sem pirotecnia, sem frases para trending topics (os furiosos do teclado – que, não, do açúcar, embora estejamos no verão – sabem bem o que isto quer dizer), mas com a solidez que se exige a quem quer fazer esquecer um passado mais recente de algumas agruras e amarguras.

E é precisamente com esse espírito que antecipamos o jogo frente ao Nice, a contar para a 3.ª pré-eliminatória da Liga dos Campeões. Um adversário sério, um desafio exigente – mas perfeitamente ao alcance de uma equipa que sabe que, para ser feliz, é preciso merecê-lo. E não apenas dizê-lo.

No fundo, Rui Borges pode continuar a insistir que o Sporting foi superior, como um mágico que jura ter feito desaparecer um coelho – mesmo que o coelho esteja, neste caso, a acenar do lado do Benfica. Mas como diz o velho ditado: errar é humano… persistir no erro, dar conferências de imprensa sobre ele e acreditar que todos vão engolir, isso já exige um talento especial. E, sejamos justos, nem todos têm esse dom. Talvez os estúpidos… nem que seja, só por ser estúpido!

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Nuno Campilho
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Nuno Campilho
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Rui Borges e o Paradoxo da Estupidez Humana - Se errar é humano, porque não admiti-lo?

A vitória do Benfica, por sua vez, não foi uma obra do acaso, mas de uma equipa que soube ser fria, competitiva e eficaz.

06 Ago 2025 | 11:15

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Tozé Santos e Sá
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Apontamento - Vermelho e Branco - Conquistar a 10.ª!

Quem sabe com a sua arrogância típica de quem se acha superior, não estejam já a adulterar a pintura do número de Supertaças em face da perdida, hoje…

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